Desabafos

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Ironias de lixo





Deixa-me ser o teu lixo. Quero estar num saco qualquer como todas as outras coisas: que seja mais uma delas. Que não me escolhas propositadamente e que ...me deixes lá mesmo no fundo para não me encontrares. Deixa-me ser o resto de tudo o que é de bom e mau, o resto do que já importou e agora é nada, apenas lixo. Deixa-me ser aquele último bocado que encontraste no quarto por acaso e que já não precisas. E quando isso acontecer, deita-me fora, deixa-me por aí, como lixo. Porque lixo que é lixo não chora, não sofre nem se queixa... Tal como qualquer ser humano faria.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Evaporando




Fugir de todos, fugir de mim,
Arranjar um pretexto para sair daqui.
Desaparecer sem contar a ninguém,
Nem mesmo àqueles que me fazem bem.
Fugir de mim, fugir de todos,
Fingir um fim e correr daqui,
E se me virem, vou sorrir,
Mas mal se apercebam, já eu parti.

Religiosamente Sarcasmo

Não compreendo porque é que tantos religiosos insistem em expandir a sua "fé" pelas ruas e pelas pessoas que mal conhecem, forçando-as a estar a par disso. Todos sabemos que essas religiões existem, quem quiser que se una, não é necessário isso. Aliás, só afasta possíveis crentes, na minha opinião. Respeito todas as religiões, mas acho ridículo que as pessoas crentes não respeitem quem prefere ter os seus princípios baseados sem ser na religião. O que se torna irónico, não é?Todas estas, que têm livrinhos de fazer o bem moral, dizem que devemos respeitar as decisões de cada um, perdoar, não desejar mal a ninguém, etc... mas se repararmos, são estas que não respeitam opiniões externas. Ou seja, estamos aqui num impasse: estas seguem a sua religião, ou é tudo da boca para fora só para ficar bonito? Já para não falar da tremenda hipocrisia que muitos têm, que é estar na igreja a receber indicações que o Padre/Pastor/Alguém relacionado transmite, o que não acho mal porque tudo se baseia em se ser um bom cidadão e viver bem em sociedade e consigo próprio, mas a seguir irem falar mal dos outros e imensas vezes os invejarem. Bem... decidam-se, não é? Só estão a difamar a própria religião com os próprios actos, muito sinceramente. Por isso é que eu digo que os princípios devem vir de nós, devemos estar a par do que é correto pela nossa sensibilidade de entender o que torna a nossa vida equilibrada e harmoniosa tanto perante os que nos rodeiam, como connosco mesmos. Mas reitero: respeito todas as religiões, não tenho problemas alguns em me relacionar com pessoas que tenham ideias diferentes das minhas, mas assim como eu não encho a cabeça destas a acreditarem no que eu acredito, peço que também não façam o mesmo comigo, ficando inclusivamente melindradas se não concordar com elas. Enfim...

sábado, 16 de maio de 2015

Modas




Olá a todos! Decidi hoje colocar umas fotos minhas, embora seja algo muito comum hoje em dia na maior parte dos blogues que vejo. Como eu também escrevo, o meu blogue continua a ser diferente. 
Aqui podem ver que o meu outfit daquele dia era simples, mas com uma pormenores que fazem toda a diferença. Nem sempre me visto assim, o meu género de roupa está em constante mudança diária. Em geral sou uma pessoa simples ou classy, apesar de nesta foto demonstrar o meu estilo Pin Up. Como podem ver não sou muito fotogénica, mas estas fotos também demonstram que me considero uma pessoa feliz. 
Deixem comentários, vou gostar de saber as vossas opiniões e sugestões!

Beijinho, Joana.

Vinte anos

Foram vinte anos, vinte anos que me prendeste aqui e vinte anos que por cá fiquei, com a minha vontade condicionada pelo teu desejo louco de me teres por perto. E esses mesmos fiquei, sem me mover, mesmo com todas as palavras de convicção para ir e nunca mais voltar. Mas palavras não revelam emoções: tudo o que eu desejava era ficar, como eu sempre fiz. 
Passados todos estes mesmos anos decidi dar razão à minha emoção e ficar, esquecendo todas aquelas dúvidas que me moíam o cérebro a cada segundo que passava e de alguma forma me atormentava a minha paz de espírito, dando também consideração àqueles vinte anos que me suplicaste para ficar de braços abertos para todas as vezes que eu desejasse um abraço teu. Após decidir, corri até tua casa com a maior alegria que poderia existir e bati à porta, com esperança de ver um dos milhões de sorrisos que já me fizeste. Passados uns longos minutos, lá me abriste a porta sem sequer me olhar nos olhos e dirigiste-te para o teu quarto. Nem me tinha apercebido porquê até olhar para o lado direito da tua entrada e ver as tuas malas feitas. Quando voltaste, nem falei: olhei para ti, pensando que só podia ser pesadelo, mas não poderia ser mais real. E tu, impávido e sereno, dizes que te vais embora, que decidiste não ficar lá mais, independentemente da minha decisão final. De mim, só vieram lágrimas de sofrimento e raiva, não poderia acreditar. Lentamente abri a porta de saída e comecei a ir embora, até que sinto que me pegas na mão e me levas lá para dentro. Conversámos horas e horas a fio sobre nós e tu acabaste por ficar indeciso quanto à tua ida. E no final daquela conversa fiada, lembraste-te que há vinte anos que as minhas malas ainda estão desarrumadas no canto do meu quarto, com o intuito de algum dia me ir embora, perguntando se queria ir contigo. Se fores embora, será o fim. Se for contigo, não se saberá. Se ambos ficarmos, tudo igual possivelmente ficará. E se eu for, vens comigo passear na praia ao luar?

Religião ou o bem?

Não compreendo porque é que tantos religiosos insistem em expandir a sua "fé" pelas ruas e pelas pessoas que mal conhecem, forçando-as a estar a par disso. Todos sabemos que essas religiões existem, quem quiser que se una, não é necessário isso. Aliás, só afasta possíveis crentes, na minha opinião. Respeito todas as religiões, mas acho ridículo que as pessoas crentes não respeitem quem prefere ter os seus princípios baseados sem ser na religião. O que se torna irónico, não é?Todas estas, que têm livrinhos de fazer o bem moral, dizem que devemos respeitar as decisões de cada um, perdoar, não desejar mal a ninguém, etc... mas se repararmos, são estas que não respeitam opiniões externas. Ou seja, estamos aqui num impasse: estas seguem a sua religião, ou é tudo da boca para fora só para ficar bonito? Já para não falar da tremenda hipocrisia que muitos têm, que é estar na igreja a receber indicações que o Padre/Pastor/Alguém relacionado transmite, o que não acho mal porque tudo se baseia em se ser um bom cidadão e viver bem em sociedade e consigo próprio, mas a seguir irem falar mal dos outros e imensas vezes os invejarem. Bem... decidam-se, não é? Só estão a difamar a própria religião com os próprios actos, muito sinceramente. Por isso é que eu digo que os princípios devem vir de nós, devemos estar a par do que é correto pela nossa sensibilidade de entender o que torna a nossa vida equilibrada e harmoniosa tanto perante os que nos rodeiam, como connosco mesmos. Mas reitero: respeito todas as religiões, não tenho problemas alguns em me relacionar com pessoas que tenham ideias diferentes das minhas, mas assim como eu não encho a cabeça destas a acreditarem no que eu acredito, peço que também não façam o mesmo comigo, ficando inclusivamente melindradas se não concordar com elas. Enfim...

Quem és tu, sociedade?

Que todas as lágrimas se transformem nas palavras presas à minha alma vazia de ideias, mas ocupada de emoções cruzadas e irrequietas. Que pousem dentro de mim todos os momentos de raiva, angústia e medo, para dar lugar aos outros que tanto tentam sobressair, mas que hoje mal são convidados para entrar. Estou presa à sociedade que não me pertence, que está longe do meu nome e dos meus princípios: presa na sociedade que tanto me cala, mas nada me diz. Depois disto, nada mais faço senão remeter-me ao silêncio e não deixar nem mais uma palavra em vão sair da minha boca. 
E neste núcleo vagueio pelas ruas fingindo que morri, que nem existo. Dedico-me ao que grande parte se esquece: a ser feliz como eu quero.

Doze badaladas

Se calhar está quase na hora de ires embora, de desapareceres e seguires um rumo que me é desconhecido. Neste momento é quase meia-noite, falta precisamente um minuto onde eu decidi parar o tempo e deixar que faltem infinitos minutos para a contagem decrescente desses tais últimos sessenta segundos. Por um lado acho bem deixar o tempo fluir por ele mesmo e ver o que pode acontecer nas doze badaladas: tenho a ideia que vai ser o fim, mas eu não sei... é uma incógnita. Sinceramente tenho medo de arriscar, não quero de forma alguma que isto aconteça, embora saiba que um dia mais tarde terei de dar continuidade ao tempo e deixar que ele revele a última sentença. Se calhar estou apenas a deixar que o meu lado dramático me domine e seja apenas o começo de uma nova era. Mas em mim nada indica isso... Não quero desistir do que tanto de mim levou, na ideia que deixei afincada durante tanto tempo. Acho que é o meu cérebro a dizer-me que essa paciência foi inútil se por acaso acontecer o tal fim que tanto temo. Outra faceta me diz que já devia ter arriscado e que se for o fim, que melhores começos virão.
E neste momento, afinal faltam meros 4 segundos para descobrir o veredicto, mas não me parece que os vá deixar desaparecer.

quinta-feira, 12 de março de 2015

E se eu te amar...

Quero amar-te como os meninos que jogam à bola na rua num final de tarde de verão, como se nada mim existisse para além

da infância que se distancia da amargura que faz da minha mente refém.
Refém da obscuridade dos pensamentos que ocasionalmente por mim passam sem avisar e me deixam incapaz de raciocinar... e não há algo que me deixe mais angústia que não saber a origem real dos meus actos. Não, a emoção não é a resposta: esse é o raciocínio errado da maior parte dos que julgam amar.
Porque para mim parte de amar é saber usar a razão: amor que é sentido unicamente com as emoções é meio caminho andado para a desilusão. Pelo menos é o que toda a gente sabe, mas raros pretendem saber. Porque a emoção prende-nos a uma realidade que nem existe... e amor que não é livre, não é amor, não passa de uma outra coisa qualquer.
Se pensar em te amar, que seja agora: longe das perspectivas incertas, do medo inoportuno, das noites em que não durmo a pensar num dia que ainda nem sei se pode existir, ou se te vou ver.
E se não te amar assim, nem vale a pena tentar.

domingo, 8 de março de 2015

Notícias de imprensa

O seu nome era Francisco Pereira, um senhor da casa dos trinta, alto, com um ar ponderado e misterioso. Cada vez que passava pela nossa imprensa, parecia que queria entrar ali, que lhe faltava qualquer coisa. Eu fingia que não o via, embora fosse bastante complicado não reparar naquela classe.
Todos os dias, pelas nove e meia da manhã, lá estava ele do outro lado da estrada à espera que o sinal verde o permita de passar, olhando para o relógio constantemente enquanto fazia ritmos na perna com a mão que estava livre no momento. Eu reparei porque já fazia uns três meses que o tinha sobre mira, embora nunca desse nas vistas: a arte de saber olhar de esguelha, nestes momentos dá imenso jeito. Quando ele chegava ao lado de cá, a primeira coisa com que se deparava era com a nossa imprensa (que tinha um vidro transparente), estava mesmo em frente, e ao chegar-se mesmo perto eu sentia o olhar dele em cima da minha pele, como se estivesse atenta à direção do seu olhar. Talvez fossem artimanhas das minhas hormonas aos saltos, não sei... 
Um dia, para meu espanto, ele decidiu entrar. Lembro-me como se fosse ontem: quando o senti a aproximar-se do vidro e ouvi o sininho na porta que dava o sinal que alguém entrara naquele momento, o meu coração ou bateu muito, ou parou ali: um mar de sensações me atingiu de tal forma, que duvidei se continuava viva. Eu, subtil, rapidamente remechi uns papéis ao calhas, entornei café para cima da minha camisa rosa pálida e ao levantar-me para ir buscar um lenço ou qualquer coisa, tropecei no candeeiro. O senhor, preocupado mas com um ar de quem está prestes a rebolar no chão de tanto rir, corre até mim e pergunta se está tudo bem. Rapidamente me levantei, ajeitei a camisa toda esborratada de café, fiz um sorrisinho bastante envergonhado e anuí com a cabeça. 
Entretanto, ele diz ter uma coisa para mim. Entrega-me uma folha muito bem dobrada, faz um sorriso simpático e assume ter de ir, pois acho que estava atrasado para o trabalho. Eu nunca sentira tanta vergonha na minha vida como naquele dia: a minha colega, mal ele saíu, apontou para mim enquanto dava aquela gargalhada irritante dela e batia sucessivamente na perna, para dar ênfase no gozo. Ela era irritante, mas simpática e prestável: estava na área da moda. Uma vez ela disse que tinha um desejo escondido de criar um artigo totalmente ridículo, apenas para ver quem caía. Ela nem se atreve, sabia bem que era varrida dali, se bem que a ideia é bastante engraçada.
Rapidamente sentei-me na secretária e fui ler o que lá estava escrito. A cusca da minha colega tentou ver, mas levei o papel contra o peito, olhando-a com um ar ameaçador. Ela desapontada, volta ao seu lugar. Quando fui ler o papel, bastante ansiosa, nem quis acreditar: "Bom dia. A senhora mora na Rua dos Clérigos e tem um peogeut 308 cinzento escuro? É o seguinte: já ando há imenso tempo para lhe dizer que acidentalmente bati no seu carro, mas não tive coragem. Desculpe a demora... Está aqui o meu número, com todo o gosto gostaria de ir beber café consigo: não só por isto, mas porque desde que a descobri que a achei encantadora e uma rapariga interessante de se conhecer. Sem mais demoras, Francisco Pereira.".
Tanto estava feliz, como furiosa: afinal foi ele que bateu no meu carro há três meses atrás... Bem me parecia que o conhecia de algum lado. O que vale é que ele me parece boa pessoa, senão ele bem podia ir beber café sozinho! 
No dia seguinte eu liguei-lhe. Passadas horas de conversas a fio sobre a vergonha do país e dos desastres mundiais, lá acabei por aceitar o tal convite. Parecendo que não, há males que vêm por bem.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Feliz dia do cliché

Pelos vistos hoje é dia 14 de Fevereiro, dia em que milhões de empresas lucram com a ânsia dos apaixonados em comprar todas as coisas do mundo. Sim, é verdade, eu acho este dia fútil. Pode ser de uma certa forma engraçado, mas o amor não devia ter data nem obrigações. O amor deve ser partilhado a qualquer hora, a qualquer momento que desejemos... a sério que é preciso uma data para recordar que o nosso parceiro merece um carinho, seja este emocional ou material? Imensas pessoas se pegam a estas épocas "festivas" e no resto do ano é como se estivessem impedidos de fazer tudo aquilo num outro dia qualquer. Hipocrisia nível extremo...
Agora ultimamente o número de casais tem vindo a crescer: parece que existe uma altura do ano mais vulnerável a novos amores... depois assim de repente terminam-nos... bom, eu não compreendo os relacionamentos de hoje em dia, mas também não sou ninguém para me meter nisso. E parecendo que não, por vezes toca-me um bocadinho. Não é que desesperadamente deseje ter alguém oficialmente ao meu lado, mas deixa saudades. Ainda há meses eu era um deles: andava de mão dada por aí, a demonstrar um certo afecto em público e na altura admito que quando via alguém solteiro, que me questionava quanto à felicidade desta. Estava entranhada tal que achava que temos de nos completar com outra pessoa. Neste momento penso que nunca estive tão errada na minha vida... a felicidade, como já disse imensas vezes, está em nós. Os outros são complementos apenas. Não precisamos de alguém para ser feliz, podemos apenas ser felizes com alguém. É diferente, totalmente diferente. 
Neste momento digo que atingi um equilíbrio emocional, o que foi bastante complicado para mim, visto que mais de metade da minha personalidade incluía emoção, drama, paixão... tudo o que numa palavra se torna "ilusão". E nada mais degradante que sentir infelicidade perante algo que só a nossa própria mente criou. Sim, eu era infeliz, no meio daquele "amor" todo. Eu tinha um pavor em estar sozinha, sentia que necessitava sempre de alguém ao meu lado, ou então era vergonhoso, era um fim à minha vida. Seja amigo, seja namorado... não me tinha apercebido nunca da realidade. Digamos que eu era a coisa mais dependente do mundo e não me apercebia que tudo podia ter um fim, independentemente da culpa ser nossa, do outro ou apenas do correr da vida. 
Estou a contar-vos isto para não cometerem o mesmo eu que eu: a nossa melhor companhia somos nós mesmos. Aliás, antes de gostarmos dos outros, devemos gostar de nós, preocupar-nos connosco. Porque a única pessoa que podemos controlar somos nós. Então ao aperceber-me disso, pus em acção os meus pensamentos e... resultou! Foi um processo longo, de choque, mas neste momento estou satisfeita.
Voltando ao tema fulcral deste texto: não é necessário ser um dia especial para desejarmos um bom dia a quem mais gostamos.
E além disso, o amor tem imensas formas... porquê limitá-lo?
E agora vou terminar com a frase mais irónica de sempre, perante tudo o que afirmei: FELIZ DIA DOS NAMORADOS!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Para longe

Rapidamente vesti uns trapinhos, peguei nas chaves e saí de casa. Eram 4H07 da manhã, precisava de ar: já não havia sono que abafasse aquele sufoco noturno a não ser o burburinho dos ventos de inverno que por aquelas ruas desertas passeavam. Precisava da companhia deles, que me levassem para onde quisessem, desde que fosse para muito longe. Por aquele rumo segui sem me preocupar com nada. E por ali apenas vagueava um corpo, o meu corpo. O resto? Deixei preso debaixo dos lençóis, precisava de paz, de encontrar uma nova parte de mim noutro lugar diferente da rotina. Passados uns dois quilómetros, sentei-me na sarjeta e refleti sobre os aspetos positivos da minha vida, sem sequer deixar que os menos apelativos para o meu sorriso se intrometessem. Eu sei, daqui a menos de 5 horas lá vou eu cruzar-me com as mesmas pessoas, apanhar o trânsito habitual, o convite habitual da minha colega para o cafézinho e tertúlias variadas, assim como o momento em que a porta da empresa se fecha... Mas eu gosto, é a minha vida, e esta ninguém a vive por mim. Por vezes faz bem quebrar a rotina, cometer loucuras se for preciso...
E assim voltei para o meu lar, com a cama limpa do desespero, cansaço e confusão que ocupava as minhas preciosas horas de sono que tanto preciso. Posso dizer que aquelas duas horas que dormi, foram uma das melhores da minha vida. 

Há coisas que escapam


Ilusões


Mais que segundos


Por uma âncora

Talvez o problema não estivesse nele, nem no que ele fez. Aliás, do que nós fizemos. Nem mesmo estava naquele trocadilho de palavras inútil que tanto criavamos apenas porque sim. Tantas palavras vazias que foram para dentro do saco. E no entanto o problema não estava em mais lado nenhum a não ser em mim. Nem sempre o erro está no fazer mal ao outro ou deixar de fazer, mas em iludirmo-nos que está certo manter. O melhor era mesmo deixar partir por aquelas águas de rumo, a meu ver, infinito. Tanto tempo que deixei a âncora a prender tudo isto, que acabei por também me prender lá, como se me tivesse tornado refém de mim mesma. Por sorte a corrente partiu-se, dando a hipótese de libertar-me, vendo o que prendera ir-se embora sem esperar por mim. Não havia volta de ir atrás, nem mesmo de a fazer voltar. Mesmo assim nem me apercebera so alívio, então ali fiquei uns bons meses a lamentar as histórias futuras que não aconteceram. Só me restava libertar a corrente do meu pulso e afastar-me daquela praia fria e ventosa, mas eu só queria estar ali. Nada nem ninguém me arrancou dali, nem quando me chamavam para ir dar um passeio de fim de tarde. Parecia que o que navegara pelas águas gerou o começo do fim, como se já nada me restasse, como que já não tivesse mais vida pela frente nem mesmo mais manhãs para andar de bicicleta com uns amigos. Mal eu sabia que naquelas correntes presas aos meus pulsos encontrava-se a minha cegueira e os meus medos. Talvez soubesse, mas não queria saber: alguma coisa de mim dali se foi, como se estivesse em parte morta.
Tanto que me fartei de ali ficar que acabei por ir buscar um casaco a casa. Ao chegar, o conforto tornou-se tal que nem me apeteceu voltar àquela praia. Ali juro que nunca mais voltei, nem mesmo para espreitar. Ao longo dos tempos as correntes foram saindo dos meus pulsos, e quando cairam de vez guardei-as numa caixinha dentro do roupeiro, para não haver hipótese de as voltar a prender. Foi o maior alívio de todos os tempos e parecia que tudo voltara a estar equilibrado, sem sequer me dar conta do que se passou antes. Não passou de um mau momento.

Meias de prazer a longo prazo

Isto faz-me lembrar a última vez que estava no comboio a caminho de Lisboa. Ao meu lado estava um senhor de idade e do outro estava a filha e a mulher. Eram pessoas muito simples, típicas de alguma aldeia. No início admito que não estava para ter conversas com ele e limitei-me a ouvir a minha música. Até que passado um bom bocado, reparo que decide iniciar uma conversa comigo. Contou-me histórias sobre os tempos em que ele era militar, por onde andou, etc. Entretanto, diz-meque a mulher de momento estava doente e tinha um determinado problema mental. Lembro-me de ter olhado para a senhora e esta estava com uma cara séria, pensativa, melancólica. Parecia que nem estava ali sem ser de corpo. Talvez o problema da senhora fosse Alzheimer, não sei...
A parte que mais me comoveu foi quando o senhor se levantou do lugar, sentou-se ao lado da mulher e sem perguntar se tinha frio, tirou da malinha dele umas meias e calçou-lhas. Para mim, foi um dos momentos mais bonitos de amor que alguma vez vi. Depois daqueles anos todos, e apesar do problema da senhora, ele continua ali para ela, sem de ralar com o que há-de vir. Naquele momento pensei: "será que no futuro, quando for velhinha, vou ter alguém que também me agasalhe quando eu estiver com frio e incapacitada"? Sei que parece pouco relevante, mas estes pormenores contam. Agora os jovens desistem à primeira oportunidade, já não se interessam em lutar por quem têm ao lado, já não valorizam isso. Ainda existe quem crie estas pequeninas provas de amor, que se preocupe ao pequeno detalhe, que engula imensos sapos e mesmo assim lute por isso com um sorriso na cara. E onde está o agradecimento, o valor por parte de quem recebe esse tipo de mimos? Tenho saudades dos tempos antigos que nunca vivi, essa é que é essa.

Comigo

E neste momento só me apetece estar comigo. Sozinha não, comigo. Escondida do mundo por detrás das minhas preocupações, medos e pensamentos. Por vezes este nosso cantinho que criamos é o nosso melhor amigo, o que nos faz refletir relativamente às nossas prioridades e com quem devemos estar quando sairmos dele. É uma lavagem cerebral saudável, daquelas que todos precisamos de vez em quando. Quando o cérebro entra em sobrecarga de ideias sobrepostas umas em cima das outras, é nessa altura em que tudo se torna um problema, na nossa perspectiva. Neste caso, na minha. Parece que tudo me aconteceu ao mesmo tempo e a minha mente entrou em colapso. Pessoas entraram e sairam da minha vida de repente, situações inesperadas foram acontecendo relativamente a elas. Tanto me supreenderam pela positiva como pela negativa. Quem achava que conhecia tão bem, revelou-se uma pessoa oposta. E aqui eu penso: afinal no que devo acreditar? Posso equiparar isto a um final de um livro em que as personagens se revelam: a pessoa que parecia melhor revelara-se a má da fita e aquela que achava nunca servir foi a que se revelou heroína. Claro que não foi tão linear assim, mas foi um mero exemplo.
É por isto que acho melhor estar só comigo, criar ideais diferentes, afastar-me um pouco. Sinceramente prefiro que a frieza tome conta de mim, pois torna-me mais racional. Digamos que a minha parte emocional estragou muita coisa. E assim me despeço.

E tudo o fumo levou




Escondi-te por trás do meu cigarro e deixei que as minhas mágoas voassem pelo fumo, depois de cada bafo que dei a pensar em tudo de mau que queria que desaparecesse. E no final, quando o apaguei naquele cinzeiro, nada restou a não ser as cinzas portadoras das memórias que me ficaram presas. Mas dali nada de mim restou: peguei na minha mala e saí dali, jurando para nunca mais voltar.

Pássaro que é pássaro

Vamos observar os pássaros. Pássaro que se preze é livre, viaja, não gosta de estar preso. Não desejas ser um deles? Viveres sem pensar nas consequências, aprenderes a voar por ti mesmo... aventurares-te?
Todo o ser humano gosta de ser pássaro, voltar ao lar porque deseja, não porque o prendem ou o forçam... não é verdade?
A melhor forma de manteres na tua vida quem desejas, é não o proibires de partir. Se o fizer e nunca voltar, é uma forma de saberes que afinal essa mesma pessoa não deve pertencer à tua vida, ou então é apenas um alerta dessa pessoa para agires, mudares a tua conduta: assim como te magoam, tu também podes magoar.
Nunca lamentes o que neste momento não aconteceu: ou um dia mais tarde vai realizar-se, se realmente ambicionares isso, ou então apenas está a dar lugar a que algo melhor te aconteça. As pessoas crescem, ganham experiência, alteram as suas próprias ideologias. E tudo o que neste momento se vive, todas as pessoas com quem no presente falamos e todas as nossas acções, vão influenciar o nosso futuro. Amanhã sempre será um novo dia, um novo desafio e, ao mesmo tempo, vai ser sinal que mais um dia da tua vida passou. Sabes o que significa? Que é tempo de agires, de seres útil para a sociedade e, ao mesmo tempo, de seres melhor que tu mesmo: seres útil a ti mesmo. Nunca ninguém atinge o máximo, há sempre algo novo a aprender. Se queres que gostem de ti, trata antes de mais, gostares de ti mesmo. Peço-te que não desperdices a tua vida, que vivas ao máximo, mas ao mesmo tempo que não proíbas que os que te rodeiam tenham essa mesma liberdade.
E com isto apenas pretendo transmitir isto: "ninguém é de ninguém". Se queres controlar alguém, controla-te a ti mesmo.