Desabafos

sábado, 16 de maio de 2015

Vinte anos

Foram vinte anos, vinte anos que me prendeste aqui e vinte anos que por cá fiquei, com a minha vontade condicionada pelo teu desejo louco de me teres por perto. E esses mesmos fiquei, sem me mover, mesmo com todas as palavras de convicção para ir e nunca mais voltar. Mas palavras não revelam emoções: tudo o que eu desejava era ficar, como eu sempre fiz. 
Passados todos estes mesmos anos decidi dar razão à minha emoção e ficar, esquecendo todas aquelas dúvidas que me moíam o cérebro a cada segundo que passava e de alguma forma me atormentava a minha paz de espírito, dando também consideração àqueles vinte anos que me suplicaste para ficar de braços abertos para todas as vezes que eu desejasse um abraço teu. Após decidir, corri até tua casa com a maior alegria que poderia existir e bati à porta, com esperança de ver um dos milhões de sorrisos que já me fizeste. Passados uns longos minutos, lá me abriste a porta sem sequer me olhar nos olhos e dirigiste-te para o teu quarto. Nem me tinha apercebido porquê até olhar para o lado direito da tua entrada e ver as tuas malas feitas. Quando voltaste, nem falei: olhei para ti, pensando que só podia ser pesadelo, mas não poderia ser mais real. E tu, impávido e sereno, dizes que te vais embora, que decidiste não ficar lá mais, independentemente da minha decisão final. De mim, só vieram lágrimas de sofrimento e raiva, não poderia acreditar. Lentamente abri a porta de saída e comecei a ir embora, até que sinto que me pegas na mão e me levas lá para dentro. Conversámos horas e horas a fio sobre nós e tu acabaste por ficar indeciso quanto à tua ida. E no final daquela conversa fiada, lembraste-te que há vinte anos que as minhas malas ainda estão desarrumadas no canto do meu quarto, com o intuito de algum dia me ir embora, perguntando se queria ir contigo. Se fores embora, será o fim. Se for contigo, não se saberá. Se ambos ficarmos, tudo igual possivelmente ficará. E se eu for, vens comigo passear na praia ao luar?

2 comentários:

  1. O melhor dos teus textos até hoje, está qualquer coisa. Poderoso. 8D

    http://gestoolharesorriso.blogs.sapo.pt/

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    1. Fiquei mesmo feliz por saber que gostaste assim tanto!
      Há-de vir aquele com o título bastante sugestivo, mas conta com um texto a criticar um estabelecimento. Estou bastante inspirada em escrever sobre quem me chamou arrogante umas três vezes.
      Sim, eu sou arrogante, imenso... acho que devia arder no inferno!

      Beijinhos Carolina! ♥

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