Desabafos

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Meias de prazer a longo prazo

Isto faz-me lembrar a última vez que estava no comboio a caminho de Lisboa. Ao meu lado estava um senhor de idade e do outro estava a filha e a mulher. Eram pessoas muito simples, típicas de alguma aldeia. No início admito que não estava para ter conversas com ele e limitei-me a ouvir a minha música. Até que passado um bom bocado, reparo que decide iniciar uma conversa comigo. Contou-me histórias sobre os tempos em que ele era militar, por onde andou, etc. Entretanto, diz-meque a mulher de momento estava doente e tinha um determinado problema mental. Lembro-me de ter olhado para a senhora e esta estava com uma cara séria, pensativa, melancólica. Parecia que nem estava ali sem ser de corpo. Talvez o problema da senhora fosse Alzheimer, não sei...
A parte que mais me comoveu foi quando o senhor se levantou do lugar, sentou-se ao lado da mulher e sem perguntar se tinha frio, tirou da malinha dele umas meias e calçou-lhas. Para mim, foi um dos momentos mais bonitos de amor que alguma vez vi. Depois daqueles anos todos, e apesar do problema da senhora, ele continua ali para ela, sem de ralar com o que há-de vir. Naquele momento pensei: "será que no futuro, quando for velhinha, vou ter alguém que também me agasalhe quando eu estiver com frio e incapacitada"? Sei que parece pouco relevante, mas estes pormenores contam. Agora os jovens desistem à primeira oportunidade, já não se interessam em lutar por quem têm ao lado, já não valorizam isso. Ainda existe quem crie estas pequeninas provas de amor, que se preocupe ao pequeno detalhe, que engula imensos sapos e mesmo assim lute por isso com um sorriso na cara. E onde está o agradecimento, o valor por parte de quem recebe esse tipo de mimos? Tenho saudades dos tempos antigos que nunca vivi, essa é que é essa.

2 comentários:

  1. Sabes, fiz uma pergunta esta pergunta a umas moças novitas "O que é para ti o mais importante quando envelheceres?" E elas não me souberam responder a conclusão que tirei foi que as pessoas não pensam nisso. Não pensam que vão envelhecer e que um dia, vão morrer.

    Gostei do texto.
    Beijinho do,
    Oito

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    1. Por vezes preocupamo-nos tanto com acontecimentos grandes que nos esquecemos que estes são construídos pelos mais pequenos: um pequeno detalhe pode fazer toda a diferença, tanto para o bem como para o mal.
      Hoje em dia, infelizmente, as preocupações são outras... e além disso, cometem sempre o mesmo erro: imaginar o futuro, lamentar o passado e esquecer o presente. Chegam ao final da vida vazias, sem objetivos cumpridos, um mero ser que existiu na sociedade. Nos tempos antigos mesmo tendo apenas a quarta classe, a cultura e experiência de vida destas eram inacreditáveis desde muito novos. Agora? Não há interesse... e a ignorância facilita os que estão no poder. Sem informação, ideias formadas ou poder crítico, as pessoas não passam de marionetas. Até tenho medo desta nova geração que vai envelhecer...
      Muito obrigada pelo seu comentário e pela sua crítica!
      Beijinho!

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